A HISTÓRIA DO JUAZEIRO E O PADRE CÍCERO
A história do Juazeiro está intimamente ligada à figura do Padre Cícero Romão Batista. A fundação da cidade acontece com a construção capela de Nossa Senhora das Dores, em 15 de setembro de 1827, no local denominado Fazenda Taboleiro Grande (município de Crato), de propriedade do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro.
Descreve-se que três grandes juazeiros existentes em frente à capela, passaram a ser pousada obrigatória de viajantes e tropeiros, que viviam em andanças pelos sertões. Com o tempo, começaram a surgir as primeiras moradias e pontos de negócios, tendo início o povoamento. A fundação da cidade, porém, se deve ao Padre Cícero.
Quando Padre Cícero chegou ao povoado de Juazeiro, em 11 de abril de 1872, para fixar residência, o local era um pequeno aglomerado humano com uma capelinha erigida pelo primeiro capelão, o Pe. Pedro Ribeiro de Carvalho, neto do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, uma escola, cerca de 35 casas (a maioria de taipa) e duas pequenas ruas (Rua Grande e Rua do Brejo). Cinco famílias importantes habitavam o local: Macedo, Gonçalves, Sobreira, Landim e Bezerra de Menezes. O restante da população era formado por escravos e arruaceiros habituados à bebedeira e à prostituição.
Antes de fixar residência definitiva no povoado de Juazeiro, Padre Cícero o visitou pela primeira vez no Natal de 1871, a convite do Professor Semeão Correia de Macedo, para celebrar a tradicional Missa do Galo. Padre Cícero chegou a revelar a amigos íntimos a verdadeira decisão de morar em Juazeiro, foi um sonho onde Jesus pediu que o Padre Cícero tomasse conta do povo sertanejo.
A partir daí Padre Cícero planejou sua vinda para o povoado de Juazeiro. Chegou no dia 11 de abril de 1872. Uma vez instalado em sua nova residência, Padre Cícero deu início a sua ação evangelizadora e moralizadora. Modificou o costume da população acabando pessoalmente com a bebedeira e a prostituição. Com ele o povoado experimenta os primeiros passos rumo ao desenvolvimento.
Em 1907 o povoado de Juazeiro já havia alcançado um considerável nível de desenvolvimento, mas continuava pertencente ao município de Crato. Isto começou a incomodar os juazeirenses, surgindo daí o desejo de independência. Um movimento emancipalista iniciado por eminentes cidadãos locais, entre os quais José André de Figueiredo, Joaquim Bezerra de Menezes, Francisco Nery da Costa Morato, Cincinato Silva, Manoel Vitorino da Silva e João Bezerra de Menezes recebeu mais tarde a adesão do Padre Cícero, do médico baiano Floro Bartolomeu da Costa, do Padre Joaquim de Alencar Peixoto e do Prof. José Teles Marrocos, culminando com a vitória em 22 de julho de 1911, quando foi assinada a lei nº 1028, que elevou o povoado à categoria de Vila e sede do Município. Um forte aliado do movimento de independência de Juazeiro foi o jornal O Rebate, o pioneiro da imprensa juazeirense, fundado pelo Padre Joaquim Marques de Alencar Peixoto, em 18 de julho de 1909. No dia 4 de outubro de 1911, a Vila de Juazeiro foi inaugurada oficialmente, e o Padre Cícero foi empossado como seu primeiro Prefeito, ou Intendente, como se chamava naquela época. No dia 23 de julho de 1914, através da Lei nº 1178, a Vila de Juazeiro foi elevada à categoria de cidade. Esta data, porém, não é comemorada. Prevalece a data de criação do município. Em 9 de setembro de 1943, numa reunião realizada na Biblioteca Municipal foi adotada a denominação de Juazeiro do Norte. Os outros nomes sugeridos foram: Juripeba, Cariris, Padre Cícero, Nordestina e Cicerópolis. Fora da cidade existem três aglomerados humanos importantes: Marrocos, Padre Cícero (antiga Palmeirinha) e Vila Três Marias.
O desenvolvimento do Juazeiro do Norte que hoje é considerada a maior cidade do interior do Ceará, se dá pelo comércio que gira em torno da figura do Padre Cícero e é considerado um dos maiores centros de religiosidade popular da América Latina, atraindo milhões de romeiros todos os anos. Sem deixar de destacar o desenvolvimento das industrias que a cada dia vem tendo um elevado crescimento em todos os setores. Juazeiro do Norte também se destaca por ser uma cidade com muitos atrativos turísticos, sendo, por isso, visitada por romeiros e turistas do Brasil e do Exterior, numa média anual de um milhão de visitantes. A rede hoteleira conta com hotéis de até cinco estrelas, fora dezenas de ranchos para hospedagem de romeiros. Eis algumas atrações turísticas: Monumento do Padre Cícero, na Serra do Horto, Santo Sepulcro, Memorial Padre Cícero, Museu Padre Cícero, Matriz de Nossa Senhora das Dores, Casa dos Milagres, Capela do Socorro, Santuário de São Francisco, Igreja do Sagrado Coração de Jesus e Praça Padre Cícero.
A crença construiu símbolos, caminhos e a identidade de um povo, em que a fé sempre falou mais alto. E a motivação primeira dessa crença tem extrema relação com o Padre Cícero Romão Batista.
Padre Cícero é o maior benfeitor de Juazeiro e a figura, mais importante de sua história. Foi ele quem trouxe para Juazeiro as Ordens dos Salesianos e dos Capuchinhos; doou os terrenos para construção do primeiro campo de futebol e do aeroporto; construiu as capelas do Socorro, de São Vicente, de São Miguel e a Igreja de Nª Sª das Dores; incentivou a fundação do primeiro jornal local (O Rebate); fundou a Associação dos Empregados do Comércio e o Apostolado da Oração; realizou a primeira exposição da arte juazeirense no Rio de Janeiro; incentivou e dinamizou o artesanato artístico e utilitário, como fonte de renda; incentivou a instalação do ramo de ourivesaria; estimulou a expansão da agricultura, introduzindo o plantio de novas culturas; contribuiu para instalação de muitas escolas, inclusive a famosa Escola Normal Rural e o Orfanato Jesus Maria José; socorreu a população durante as secas e epidemias, prestando-lhe toda assistência e, finalmente, projetou Juazeiro no cenário político nacional, transformando um pequeno lugarejo na maior e mais importante cidade do interior cearense.
Os bens que recebeu por doação, durante sua quase secular existência, foram doados à Igreja, sendo os Salesianos seus maiores herdeiros.
Ao morrer, no dia 20 de julho de 1934, aos 90 anos, seus inimigos gratuitos apregoaram que, morto o ídolo, a cidade que ele fundou e as devoções à sua pessoa acabariam logo. Enganaram-se. A cidade prosperou e a devoção aumentou. Até hoje, todo ano, religiosamente, no Dia de Finados, uma grande multidão de romeiros, vindos dos mais distantes locais do Nordeste, chega a Juazeiro para uma visita ao seu túmulo, na Capela do Socorro.
Padre Cícero é uma das figuras mais biografadas do mundo. Sobre ele, existem mais de duzentos livros, sem falar nos artigos que são publicados freqüentemente na imprensa. Ultimamente sua vida vem sendo estudada por cientistas sociais do Brasil e do Exterior. Não foi canonizado pela Igreja, porém é tido como santo por sua imensa legião de fiéis espalhados pelo Brasil.
Padre Cícero é uma economia dentro do município de Juazeiro do Norte. Ele esta na música, na literatura oral, na cultura, no artesanato e na devoção e fé daquele povo.
Padre Cícero Romão Batista nasceu em Crato (Ceará) no dia 24 de março de 1844. Ele foi ordenado no dia 30 de novembro de 1870. Após sua ordenação retornou ao Crato, e enquanto o Bispo não lhe dava paróquia para administrar, ficou ensinando Latim no Colégio Padre Ibiapina. Em 1889, ocorreu a primeira manifestação dos “poderes milagrosos” a ele atribuídos, quando a hóstia colocada na boca da beata Maria de Araújo se transformou em sangue. De início, Padre Cícero tratou o caso com cautela, guardando inclusive sigilo por algum tempo. O povoado passou a ser alvo de peregrinação: as pessoas queriam ver a beata e adorar os panos tintos de sangue. Essa peregrinação causou sentimentos de inveja, ciúmes e sentimentos depreciativos para com o Padre Cícero que depois de algum tempo custou-lhe o direito de celebrar. Pe. Cícero foi acusado por membros do Vaticano de mistificação, manipulação da crença popular e heresia (desrespeito às normas canônicas); em 1894, foi punido com a suspensão da ordem. Por todo o restante da vida, Cícero tentou, em vão, revogar a pena. Em 1898, foi a Roma e encontrou-se com o Papa Leão XIII, que lhe concedeu indulto parcial, mas manteve a proibição de celebrar missas; apesar da proibição, Cícero jamais deixou de celebrar missas em sua igreja em Juazeiro. Proibido de celebrar, Padre Cícero ingressou na vida política. Valeu-se do enorme prestígio entre os fiéis para conseguiu se eleger. Em 1911, com a emancipação de Juazeiro, elegeu-se Prefeito e ocupou o cargo por quinze anos; Cícero engajou-se tanto nas disputas políticas entre os oligarcas cearenses que acabou por ver-se na situação de enfrentar tropas federais, enviadas para uma intervenção. Cícero usou sua popularidade para convencer os fiéis a pegar em armas, e obrigou o governo federal a recuar da intervenção.
Posteriormente, foi nomeado vice-governador do Ceará e eleito Deputado Federal, mas, como não queria deixar Juazeiro, jamais exerceu nenhum desses cargos.
Após sua morte, sua fama e seus feitos foram divulgados entre as camadas populares, não raramente com certo exagero dos poetas populares. Embora ainda banido pela Igreja, tornou-se, de fato, um santo entre os sertanejos.
No final do século 20, o Papa Bento XVI, quando ainda era Cardeal e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em Roma, propôs um estudo sobre o Padre Cícero com a finalidade de, possivelmente, reabilitá-lo perante a Igreja Católica e, eventualmente, beatificá-lo.
No dia 22 de março de 2001, Padre Cícero foi eleito o Cearense do Século, em pesquisa organizada pela Rede Globo e TV Verdes Mares.
No dia 22 de março de 2001, Padre Cícero foi eleito o Cearense do Século, em pesquisa organizada pela Rede Globo e TV Verdes Mares.
REFERÊNCIAS
DELLA CAVA, Ralph. Milagre em Joaseiro.2a. edição. São Paulo, Editora Paz e Terra, 1985.
FORTI, Maria do Carmo P. Maria de Araújo, a beata do Juazeiro. São Paulo, Edições Paulinas, 1991.
GUEIROS, Optato. Lampeão. 2a. edição. São Paulo, 1953.
OLIVEIRA, Amália Xavier de. O Padre Cícero que eu conheci. 3a. edição. Recife, Editora Massangana, 1981.
SOBREIRA, Azarias. O Patriarca de Juazeiro. Petrópólis, 1968.
Bom dia meus caros!!!
ResponderExcluirA iniciativa é fundamental, fiquei muito feliz, diria satisfeito, os limites inexistem nesse espaço, o texto sobre o Padre Cícero é muito bom, continuem alimentando o blog...
Parabéns...
Prof. Rogério Dantas