A ANCESTRALIDADE E A RELIGIÃO AFRICANA
Um dos fundamentos dos africanos é o culto aos ancestrais. É por meio dos cultos a esses antepassados que emana todas as outras estruturas das sociedades tradicionais. Esses cultos vão aparecer como fonte para as famílias, fontes para os cultos aos orixás, fontes para as religiões, ou seja, fonte para quase todo cotidiano das sociedades africanas.
Segundo Eduardo de Oliveira, os cultos aos ancestrais se dividem em três camadas, três categorias, que contemplam três dimensões distintas. O primeiro culto que é chamada de Sasa – que seriam ancestrais coletivos, que representariam toda comunidade, aldeia ou coletividade. Existem os Ecombus que seriam os ancestrais que representam a dimensão masculina, que são ancestrais masculinos que se remete diretamente ao individuo, deferente dos orixás que se remeteria diretamente ao coletivo e teria também os Zamani akbas que seriam os ancestrais que contemplam a dimensão do feminino e que se manifestam de forma individualizada.
Eduardo de Oliveira ainda faz uma diferenciação de ancestrais para Orixás, muito embora os orixás se derivem dos ancestrais, como por exemplo o rei Oxalá que se torna o rei Xangô eu é elevado a categoria de orixá pelos seus seguidores. Mas se há uma diferença, por outro lado existe também uma complementação. Orixás e Ancestrais de complementam.
Os Orixás seriam uma espécie de materiais simbólicos de origem, seria o que os antropólogos chamam de Arque. Seriam modelos atemporais, modelos históricos. Já os Ancestrais seriam princípios de existência social, ou seja, são exemplos sociais. Seriam tipos de heróis de nossa sociedade.
Os ancestrais por representarem todas essas três dimensões, o coletivo, o individual tanto masculino, quanto feminino, seriam a fonte geradora de todos os aspectos da coletividade da sociedade africana.
Os ancestrais são elementos fundamentais estruturantes dessa sociedade africana, pois eles participam praticamente de toda cotidianidade africana tradicionais em todas as dimensões e aspectos. Em grande medida passam a ser fundamentos das religiões africanas.
A principal estrutura da cultura, da identidade africana, segundo Eduardo de Oliveira é baseada na religiosidade. Ele elege algumas características que se percebe-se em quase todas as religiões da África negra.
A primeira característica é que todas elas são religiões comunitárias, que se centram na idéia de comunidade. Buscam o benefício para o coletivo e não o bem para um individuo como a maioria de algumas religiões ocidentais. Nas religiões africanas não há privilégios de classes ou de uma pessoa.
A segunda característica é que essas religiões são pragmáticas, que buscam a harmonia social e espiritual e nesse sentido elas não se desvinculam da política, da economia e nem do cotidiano, por isso é que são religiões extremamente pragmática. Dentro dessa sociedade nada está apartado, tem uma ligação ente economia, política e religião. Não é igual ao modo separado de pensar dos ocidentais, que separam a religião de todas as outras dimensões sociais.
A terceira característica é que não há salvacionismo nas religiões africanas, porque nas concepções africana não existe o pecado, nem de culpa, nem de paraíso, nem muito menos de inferno. E se não há essa concepção de erro não tem porque existir a necessidade de salvação. As religiões africanas não são orientadas para o futuro como são orientadas as religiões de origem cristãs.
A quarta característica, que estará presente em todas as religiões africanas é o culto aos ancestrais, seja como complementaridade do masculino, feminino ou hora divindade andrógena que mistura o masculino com o feminino, hora divindade coletiva que representa toda comunidade. Assim como a idéia de sacralidade se apresenta como outra característica profunda dos povos africanos que abrange todo o cotidiano.
O sagrado não diz respeito a penas a este espaço divino. Não há essa separação do sagrado com o divino. Para as religiões africanas o sagrado e o divino estão em tudo. A religião busca o bem estar do coletivo.
Outra característica muito importante é o conhecimento da natureza. Todo individuo que compõem, ou que são adeptos dessa sociedade, dessa religiosidade são conhecedores das riquezas que pode advir da natureza. Os africanos reconhecem na natureza sua fonte de vida. Há uma simbiose entre natureza e divindade. A divindade esta não só no que é orgânico mais também no que é inorgânico natural. Por isso que nas religiões africana eles fundem elementos naturais como por exemplo, animais, plantas, raízes,água, pedras etc.
Outra característica encontrada em todas as religiões africanas é a divisão entre divindade criadora e divindade organizadora, ou seja, aquela que cria, que deu origem ao universo e aquelas divindade que servem para organizar a vida social, natural.
E outra característica importante, pois diferencia as religiões das seitas. São os mitos de origem, o mito fundador que conta a origem do mundo para aquela determinada religião.
Para Eduardo de Oliveira a sétima característica seria a dualidade das coisas do mundo para essas religiões, que seria a mesma dualidade dos ocidentais que separam o mundo nas esferas do bem e do mau. Só que é revertida em energia construtiva ou destrutiva.
Oitava característica é a complementaridade entre divindades masculina e feminina. Nas religiões africanas o masculino e o feminino se completam. Isso dará uma importância fundamental às mulheres dentro das religiões africanas. Pois em todas as religiões africanas as mulheres têm papel de destaque, tem papel de centralidade, isso porque ela vai carregar consigo uma característica fundamental que é a da fertilidade. É a partir da mulher que é possível produzir, crescer, multiplicar. Ela seria fértil por natureza. Diferentemente do homem que não tem essa função. Por isso que eles se completam.
Outro ponto característico importante nas culturas africana é o reconhecimento das personalidades históricas que está em grade medida ligado com os cultos aos ancestrais.
A décima característica seria que as religiões são territorializadas, pois estão ligadas a um território. Estão resumidas, ligada ao espaço da comunidade.
A décima primeira característica é que são religiões imanentes. Não há a idéia de transcendente. Que se prendem a esfera do divino. Não é preciso morrer para alcançar a esfera do sagrado. O sagrado não é atingido depois da morte. Você atinge essa esfera na própria história, não precisa esperar. Por isso é que são religiões imanentes, pois são ligadas ao dia-dia das pessoas. Todas as coisas acontecem no tempo, na história e não fora dela.
A ultima característica é a idéia de diversidade, pois são religiões que aceitam e respeitam as diferenças. Não há uma exclusão de diferenças, eles integram as pluralidades de misturas, pois acreditam que a força vital, primeira está em todo. Por isso tudo está interligado entre si. Não há porque destruir algo, as coisa podem se unir.
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