HISTÓRIA MEDIEVAL I
A MORTE DE SI PRÓPRIO
Nesta aula foi possível observar a grande preocupação da sociedade medieval com a própria morte, com o que iria acontecer com seu corpo no juízo final, já que agora tudo seria individual a cada ser humano.
Por volta do século XI e XII começa a surgir uma preocupação com aquilo que chamamos hoje de individuo, ou com o corpo individual. A morte estava deixando de ser algo coletivo, que era feito da mesma forma por todos e passa a ter uma preocupação com o corpo singular, de cada um. A morte passava a ser vista não mas como um destino coletivo, mas passava a ser encarada como algo mais individualizado. Segundo Phillip Arie, alguns fenômenos é que vão introduzir essa sensível modificação. O primeiro desses fenômenos é a representação do juízo final no fim dos tempos, ou seja, havia uma preocupação com o que aconteceria com a alma a partir daquele momento. Um segundo fenômeno decorrente desse primeiro segundo Arie é que a idéia de juízo final vai ser transplantada do fim dos tempos para o fim de cada um, ou seja, não seriam mais julgados todos de uma só vez, cada um teria seu próprio julgamento particular no momento de sua morte. O terceiro fenômeno seria o interesse pelos objetos fúnebres, assim como o interesse pela decomposição pelo corpo físico. O quarto fenômeno é o retorno da epigrafia funerária, ou seja, após a morte se fazia imagens que representassem aquela pessoa, dando assim uma característica de individualização da morte. E o quinto e ultimo fenômeno foi a personalização das sepultura.
Nesse período houve uma supervalorização do cristianismo e da igreja na questão do juízo final, pois todos aqueles que fossem tidos como cristão ou que tivessem confiado seu corpo a igreja já estariam salvo.
A igreja era detentora de uma grandiosa influência neste período, pois a igreja tinha a função de salvar as almas e julgando quem estava apto ou não a ir para o paraíso. Toda sua vida será guardada no seu livro da vida onde se verá as suas obras e se merece está junto do Pai. Há também, a figura do purgatório que seria um lugar para aqueles que não conseguiram ir para o paraíso. Então a alma ficaria como se estivesse se purificando, para no fim dos tempos serem salvas.
A partir do século XIII surge uma nova visão do juízo final que continuava com algumas características do julgamento anterior, mas que foram adicionados novos elementos. Um dos elementos é a separação dos justos e dos não justos. E serão julgados mediante suas ações aqui na terra. A partir de então a biografia pessoal de cada um passa a pesar na ora em que se apresentassem diante de Deus.
E muitas outras mudanças aconteceram neste período da história e que tiveram influencia significativa nas sociedades posteriores, pois até hoje temos traços desses acontecimentos ocorridos nessa fase da história da humanidade.
A MORTE DOMESTICADA
Segundo Phellipe Arie, a primeira forma de morrer ou a primeira atitude perante a morte que ele vai destacar é o que ele chama de MORTE DOMESTICADA. Que seria aquela em que o individuo sabe de ante- mão, através dos sinais que seu corpo apresenta que vai morrer. É uma morte reconhecida pelo moribundo e onde ele mesmo prepara o organismo e todo o ritual de sua morte. Neste tipo de morte, morte domesticada, a figura central vai ser o próprio moribundo. Toda a cerimônia é prepara pelo enfermo em sua fase terminal e o primeiro ato é o de deitar-se no leito. As pessoas desta época não morriam fora dos seus leitos, de suas casas. A segunda atitude era colocar os braços em cruz e a cabeça voltada para Jerusalém o rosto para o céu. Até o século XII não se morria de forma diferente, isso entre os mais pobres e os mais ricos, todos morriam da mesma forma. Feito isto, o morto permanecia com todo protoco. Recebia os parentes, amigo, conhecidos, todos que quisessem vê-lo. A morte era uma cerimônia pública, coletiva. Onde todos presenciavam, todos participavam da cerimônia. Era muito mais uma confraternização com aquele que estava morrendo do que uma despedida. Após este momento o agonizante congratulava-se e reconciliava com aqueles que iam fica. Recomendava a alta deles e a sua. Depois ele se recolhia e esperava a morte vir lhe buscar. A única participação dos visitantes nestes rituais era a de ungi a cabeça do moribundo. Esse era o ritual da Morte Domesticada segundo Phellipe Arie. Esta é a morte típica do homem ocidental do século IV.
As características dessa morte segundo Phellipe Arie são as seguintes. A primeira é que ela é uma morte pública e coletiva, onde todos morrem do mesmo jeito e é uma cerimônia onde todos podem participar. A segunda característica é que a morte não é um ritual de lamentação, ela não é espetacularizada, muito pelo contrario é um ritual muito simples, onde as pessoas aceitam naturalmente, diferentes dos tempos atuais.
Neste período vai ser comum as pessoas estarem dentro da Igreja e do lado, até mesmo dentro da Igreja encontrar cadáveres. Esta convivência entre vivos e mortos vai ser extremamente natural e pacifica.
A igreja vai ser o local onde vão ser enterrados os mortos. Os ricos eram enterrados dentro da igreja, próximo ao altar e os pobres fora, ao lado da igreja. Este ato de sepultar os mortos na Igreja mostrava a confiança devotada ao templo religioso. Pois eles acreditavam que confiando os seus corpos a igreja teriam a salvação, pois estariam mais perto de Deus.
Esse modo com que esta geração aceitava a morte nos revelar o estado de espírito de um povo que encontrava na conformidade uma forma de refugiar-se dos sofrimentos causado pela morte, pelas doenças e misérias daquela época. Eram apegado a explicações provenientes dos “representantes de Deus” aqui na terra, aqueles que faziam parte do clero. Por isso viveram de conformidade e submissão.
A MORTE DO OUTRO
A partir do século XVI acontece uma modificação significativa com relação a morte, surge um novo sentido pra ela. A morte agora vai ser vista, representada de uma forma muito mais espetacularizada. Ele passa a ter uma exaltação. Se torna algo dominante na vida do homem. Algo angustiante, tenebroso, que destrói com toda calmaria do homem. Há toda uma dramatização em torno dos rituais fúnebre. Morrer passava a ser vista como ruptura, como algo que dar fim na sequência da vida. Torna-se algo irracional.
A igreja usa a morte como punição para aqueles que ela considerava herege. A morte passou a ser temida.
Neste século ocorre a expansão da burguesia e inicio de gestação do movimento de industrialização da Europa. Os aspectos materiais e econômicos passam a ter uma importância mais significativa que até então não tinha.
A morte passa a ser sinônimo de ruptura com a realidade da vida, com a idéia de razão e com a idéia de trabalho. Interrompe a sequência da vida. E todos querem adiar esse momento provocado pela morte.
Há um desenvolvimento também na questão da expectativa de vida. Ultrapassam a média dos séculos passados que não chegavam a mais de 45 anos.
A partir do século XVI a morte não é algo banal, natural, é algo que todos sabem que vão passar e todos se resignam da idéia de morrer. Passa a haver uma não aceitação da idéia de morrer, todos querem evitar.
Passam a existir novos rituais para a morte. Não existe aquele tradicionalismo, onde todos faziam da mesma forma.
As novas atitudes perante a morte vão levar a laicização do testamento. O testamento servia para expressar a ultima vontade do testador.
Se até o século XVI, na morte domesticada e na morte de si próprio a família aparecia apenas como co-adjuvante, a partir desse momento a família passa a ter um papel fundamental, pois é a ela que o moribundo confia suas ultimas vontades. Passa a ter uma relação de afetividade ainda maior neste momento tão doloroso.
Todos estes fatos, no entanto, só ocorrem entre as classes mais abastadas que possuem alguma coisa para deixar como herança.
Neste período há uma intervenção do Estado e não somente da Igreja nas questões da morte. Para reconhecer os testamentos e diz se morreu ou não deve-se fazer referencia ao Estado,na pessoa do medico, representante do estado.
Com todo esse cuidado com relação a morte procuraram desenvolver técnicas para prolongar a vida das pessoas. Através da estética e ta utilização da medicina tentam prolongar sua estadia aqui na terra.
Uma das manifestações do medo de morrer e de saber que não teremos mais aquela determinada pessoa ao nosso lado é o surgimento dos cultos aos mortos, que nada mais seria do que a necessidade de tentar trazer essa pessoa para o convívio, nem que seja na memória, não deixando que seja esquecido, isto já pensando quando for a sua hora. E um exemplo disso são os cultos aos cemitérios, onde dedicamos um dia do ano para lembrar e celebrar os mortos. Com isso eles acreditam que exista uma vida pós morte, ou seja, existe a possibilidade de dar continuidade a vida aqui findada. Resumindo, nós não queremos pensar que a morte seja um fim e amenizam a dor com a hipótese de uma outra oportunidade de viver.
Todos esses traços podemos encontrar nos dias hodiernos. E podemos notar que o medo da morte não diminuiu, muito pelo contrario, cresce a cada instante a pesar de todas as tentativas de adaptação ainda não encontraram uma formula para aceitar a morte e a perda de alguém, causada por ela.
A MORTE INTERDITADA
Na aula de hoje o professor abordou uma temática muito atraente que nos levou a refletir sobre um dos estágios da evolução a morte. A morte interditada.
Aquilo que alterou-se muito pouco nos séculos anteriores, sofreu pequenas alterações nos século XII e XVI, quando surgiu o que se chamou de a “Morte de Si Próprio” e entre os séculos XVI e XIX quando surgiu a “Morte do Outro”.
Segundo Philipe Arie, a partir do século XX com a velocidade com que o mundo começa a tomar, também as atitudes perante a morte vai ter modificações significativas, diferente das mudanças anteriores que só aconteceram no decorrer do milênio e de forma lenta.
As alterações que pouco ocorreram no decorrer de mil anos vão ter alterações consideráveis no período de décadas, a partir do século XX.
Na passagem do século XIX para o século XX, segundo Philipe Arie, houve uma mudança, a mais radical nas atividades do homem ocidental perante a morte. A morte deixa de ser algo familiar, coletivo e vai passar a ser vista como extremamente vergonhosa, algo que não se pode mais falar abertamente, assim como se falava até o século XIX. Isto decorre devido alguns motivos.
Um é o de poupar o moribundo do sofrimento. A família passa a ter controle sobre a morte do moribundo, para poupar a dor do mesmo.
Neste momento da história a verdade sobre a morte começa a se tornar problema para os que estão prestes a morrer e para a família. Começa a admitir-se que alguém não fará parte da sua vida e se torna algo muito doloroso. A uma partilha do sofrimento.
Já a modernidade caracteriza-se pela solidariedade, tornando a vida mais feliz e de certa forma confortável pelo fato de existir alguém que procura dividir, amenizar o sofrer do outro.
Neste momento a morte passa a ser excluída, evitada, pois ela provoca angustia, por isso Arie caracteriza esta sociedade como aquela que procura interditar a morte.
Surgem novas práticas perante os rituais da morte. O primeiro fato é a transferência do local da morte que até então era no seu leito e passa a ser no hospital. Morrer em casa passa a ser constrangedor tanto para a família quanto para o moribundo.
A partir da década de 30 o hospital passou a ser não só local de morte e cura, mais privilegio de alguns na hora da morte. Há uma supervalorização da pessoa do médico com relação a morte.
Nos tempos atuais tomou o lugar das famílias anteriores que tomavam conta dos doentes em fases terminais. Hoje o médico tem a ultima palavra quando se diz respeito ao moribundo. É ele quem analisa e dá o diagnóstico final. Só então a família pode tomar as providencias cabíveis com relação a cerimônia fúnebre. O ritual mais radical é a cremação, pois impossibilita uma devoção ao cuidado dos restos mortais. No entanto não deixa-se de sofrer ou lembrar dos entes queridos que já não estão entre eles..
O luto prolongado vivido até o século XIX acabou, passou a ser cada vez mais curto, simplificado.
Por tudo isso é que podemos ver a grande importância da evolução no processo de transformação ocorrido na aceitação da morte, nos rituais, na adaptação e na forma encontrada para amenizar o sofrimento causado pela morte.
Hoje podemos ver os traços deixados no decorrer dos anos nesta tão significativa temática que é a morte.
Wellington Aquino
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